Minha avó costumava dizer: a palavra é de prata, o silêncio é de ouro. Só muito depois, na maturidade, vim a entender melhor o sentido profundo dessa máxima. Isso aconteceu quando li os versos que Lao Tsé escreveu seis séculos antes de Cristo: “Falam-se palavras e se apalavram falas, mas é no silêncio que mora a linguagem”. A partir daí descobri a meditação de S. João da Cruz: o mergulho na noite escura, no silêncio da mente que se despe de seus pré-conceitos para acolher a iluminação.
Num momento de crise global, como o que estamos vivendo, quando tantos têm tanto a falar, ansiosamente, talvez seja importante ouvir um pouco mais. Não ouvir a ruidosa fala das redes sociais, mas a voz do silêncio, pois é na profundidade do silêncio que se revela o ser da linguagem.
Creio ser oportuno, nesse momento, uma viagem a dois poemas de Jalal Rumi, poeta persa do século 13, através de duas paráfrases que fiz de seus textos.
SENTIDO
Entre o chamado e a presença
há um caminho onde o sentido se revela:
no perfeito silêncio ele se abre,
à fala ruidosa ele se fecha.
VIAGEM
Morri como mineral
e voltei como planta.
Morri como planta
e renasci animal.
Morri como animal
e ressurgi humano…
Não tenho medo da morte:
quando morrer como humano,
eu voarei com os anjos.
E quando morrer como anjo,
eu serei em Deus
Afonso Guerra-Baião, professor e escritor. Publicou as narrativas O INIMIGO DO POVO e A NOITE DO MEU BEM pela Amazon. Tem textos publicados em revistas literárias como o Suplemento Literário de Minas Gerais. Colabora em jornais e em sites como Curvelo online. Publica também em sua página no Face e em seu blog no You Tube.
Acaba de publicar SONETOS DE BEM-DIZER / DE MALDIZER, um livro que explora duas vertentes da poética clássica: a lírica, que provoca a emoção e a reflexão, e a satírica, que libera o riso e a catarse.
Afonso é torcedor do Galo.